PROJECTO

Este projeto de investigação exploratória pretende investigar o fenómeno relativamente recente dos migrantes empreendedores de estilo de vida, no contexto geográfico dos espaços rurais (nomeadamente, do Algarve) e na perspetiva da sua contribuição para o setor do turismo. O objetivo geral da pesquisa é explorar em que medida e de que forma a migração empreendedora de estilo de vida associada ao turismo tem o potencial de contribuir para o desenvolvimento sustentável do turismo e das áreas rurais.

A justificação para esta pesquisa assenta também na necessidade urgente, fruto da atual pandemia e na era pós-COVID, de se repensar e reconstruir o turismo. O Algarve, local de investigação do projeto, do ponto de vista socioeconómico é fortemente dependente do setor do turismo, tendo sido muito afetado pela drástica diminuição do turismo no último ano.

Embora o turismo no Algarve se concentre tradicionalmente nas estâncias e centros urbanos ao longo da já desenvolvida zona costeira, a região inclui também uma vasta área rural. A maioria dos seus 16 municípios estende-se desde a linha costeira até ao barrocal (faixa interior entre a zona costeira a sul e a serra a norte) e a serra. Grande parte do interior algarvio é escassamente povoado, sendo que a maioria das freguesias rurais testemunhou emigração maciça para o exterior durante a 2.ª metade do séc. XX, levando ao inevitável declínio e envelhecimento da população local, bem como a casas e a edifícios agrícolas abandonados e em ruínas. No entanto, recentemente, essas áreas rurais do interior são cada vez mais procuradas por “migrantes de estilo de vida” internacionais. Estes imigrantes são geralmente vistos como indivíduos relativamente privilegiados e ricos, cuja imigração é motivada não por fatores económicos, mas sim pela busca de melhor qualidade de vida. De salientar que estes grupos têm sido estudados a partir da perspetiva das mobilidades baseadas no consumo. Todavia, é cada vez mais evidente que estes migrantes, tipicamente de outros países europeus (no caso do Algarve), se instalam em áreas rurais, renovam as propriedades abandonadas para uso residencial e, em alguns casos, desenvolvem atividades empresariais como alojamentos locais e unidades de turismo rural.

Em paralelo, verifica-se uma clara tendência para a prática do turismo rural, tendência essa aparentemente acentuada pela pandemia da COVID-19. Mas, o turismo em espaços rurais no Algarve só começou a surgir recentemente e a oferta é limitada. Enquanto o turismo de massas de sol e praia ao longo da faixa costeira tem sido fortemente apoiado por empreendimentos nacionais e multinacionais em grande escala, o turismo em espaços rurais depende de negócios e de atividades empresariais de pequena escala. Embora se declare com frequência que o empreendedorismo pode desempenhar um papel crucial no desenvolvimento socioeconómico sustentável das áreas rurais, desde que todas as partes interessadas (empresas públicas e privadas, populações locais e os próprios turistas) cooperem para alcançar esse objetivo, encontramos escassa pesquisa para corroborar esta colaboração. Assim, fica evidente a necessidade de se desenvolver investigação sobre a atividade empresarial emergente relacionada com o turismo nas zonas rurais do Algarve; este projeto pretende contribuir para esta lacuna de investigação, centrando-se no papel dos migrantes internacionais de estilo de vida.

Em suma, são dois os objetivos gerais deste projeto pioneiro: em 1.º lugar, ir além da perspetiva dominante da migração de estilo de vida como uma forma de migração baseada no consumo e orientar a pesquisa para explorar até que ponto (e como e porquê) os imigrantes de estilo de vida no Algarve desenvolvem atividades empresariais que contribuem para a produção turística no espaço rural; em 2.º lugar, compreender as ligações entre o empreendedorismo local e o desenvolvimento sustentável do turismo e das áreas rurais do Algarve, investigando o potencial e os impactos socioeconómicos e ambientais da migração empreendedora de estilo de vida associada ao turismo.

O plano de investigação exploratória abrange (1) identificação da atividade empresarial associada ao turismo nas zonas rurais do Algarve; (2) aplicação de um questionário online com o objetivo de traçar o perfil dos empreendedores e dos seus negócios; (3) entrevistas aprofundadas com imigrantes e outros stakeholders-chave para explorar motivações, impactos, desafios e sucessos desta atividade.

São três os resultados previstos para o projeto: (1) para os próprios imigrantes, o projeto fornecerá uma base de apoio para o desenvolvimento de atividades em rede, e aprofundará a sua compreensão dos desafios e das medidas de apoio disponíveis para superar esses desafios; (2) os resultados poderão vir apoiar a emergente agenda política para as áreas rurais; e (3) irão definir o enquadramento para futura investigação comparativa, incluindo outras áreas rurais em Portugal e no estrangeiro.